Synthos no Brasil

Reportagem de capa do Jornal do Comércio atualiza informações sobre a instalação da Synthos no Brasil.

Companhia polonesa aguarda o desfecho das negociações entre Braskem e Petrobras

Obras da Synthos estão incertas
Início da construção da unidade no Polo Petroquímico de Triunfo era previsto até abril


Jefferson Klein
MARCO QUINTANA/JC

Às vésperas de Braskem e Petrobras definirem o que acontecerá sobre o acordo de fornecimento de nafta (principal matéria-prima do setor petroquímico), outro investimento que está relacionado com a questão segue em clima de hesitação quanto ao seu início. A empresa polonesa Synthos, que planeja instalar um complexo de borracha sintética (polibutadieno) no polo de Triunfo, pretendia começar as obras da estrutura até abril. Porém, no momento, não é possível confirmar essa previsão.

A data para o começo dos trabalhos foi divulgada pelo diretor da Synthos Zbigniew Warmuz no dia 20 de janeiro durante visita, no Palácio Piratini, ao governador José Ivo Sartori. No entanto, uma semana após o encontro, a companhia divulgou uma nota afirmando que o investimento para a construção da fábrica estava também condicionado à conclusão do acordo de fornecimento de nafta de longo prazo entre Braskem e Petrobras. O comunicado ressalta que a empresa está aguardando o desfecho dessa negociação para atingir as condições necessárias para viabilizar o projeto no Brasil.

Procurada recentemente pela reportagem do Jornal do Comércio, a assessoria de imprensa da Synthos informou que o grupo não está mais comentando o assunto no momento. O empreendimento do grupo é dimensionado para 80 mil a 90 mil toneladas ao ano de borracha sintética e está orçado atualmente em cerca de R$ 640 milhões. A partir do início das obras, a expectativa é de que leve aproximadamente dois anos para a unidade ser finalizada.

O tópico que envolve a nafta é crucial para a companhia, porque o insumo é utilizado pela Braskem para produzir o butadieno que, por sua vez, seria aproveitado pela Synthos para fabricar a borracha sintética. Durante divulgação dos resultados financeiros da Braskem realizada neste mês de fevereiro, o presidente da empresa, Carlos Fadigas, admitiu que não terá como firmar acordos com novos clientes sem ter um acerto de longo prazo em relação à nafta fornecida pela Petrobras. Hoje, o abastecimento está sendo mantido através de um aditivo de contrato que se encerra no próximo sábado. Fadigas aposta na concretização de um novo aditivo, provavelmente de seis meses, até ser possível chegar a uma solução definitiva. A meta da Braskem é que, em um acordo de longo prazo, a Petrobras conceda uma redução no custo da matéria-prima.

O diretor da MaxiQuim Assessoria de Mercado João Luiz Zuñeda defende que é preciso achar uma resposta o mais breve possível. É necessário, segundo ele, manter um canal de negociação com a nova diretoria da Petrobras (que assumiu após a saída da ex-presidente Graça Foster e de outros dirigentes da estatal). O consultor não acredita que chegará ao ponto das empresas ficarem sem um contrato e ocorrer uma parada nos polos petroquímicos brasileiros. O diretor da MaxiQuim recorda que a Petrobras é uma sócia relevante da Braskem. A estatal possui 47% do capital votante e 36,1% do capital total da companhia, contra, respectivamente, 50,1% e 38,3% da controladora Odebrecht. Zuñeda considera que, pelo bem da petroquímica nacional, é justo pensar em uma fórmula de preço competitiva para a nafta comercializada pela Petrobras. O analista ressalta que o País é hoje um player global dentro do setor.

Se ocorrer uma prorrogação por mais seis meses do atual acerto de nafta, Zuñeda é enfático em afirmar que, se fosse um empreendedor na situação em que se encontra a Synthos, não iniciaria o investimento até se ter uma solução definitiva sobre o tema. “Se o meu fornecedor não tem o contrato de matéria-prima, que seria no caso a Braskem, eu não investiria, prorrogaria também”, frisa. O analista acrescenta que esse cenário agrava-se, pois o Brasil tem o problema de ter “regras sendo alteradas a toda hora”. Zuñeda reitera que, se fosse um investidor estrangeiro, ficaria em dúvida.

O diretor da MaxiQuim destaca que o produto que será fabricado pela Synthos é hoje importado pelo País. Ou seja, a planta da empresa substituiria a entrada de borracha estrangeira por um material nacional. Zuñeda considera que a Petrobras, sendo uma estatal ligada ao governo federal, deve visualizar essa condição no momento de uma decisão quanto ao preço da nafta.
Sindiquim defende envolvimento do governo do Estado

Com o argumento da geração de receitas que será propiciada pela unidade da Synthos, o presidente do Sindicato das Indústrias Químicas do Rio Grande do Sul (Sindiquim/RS), Newton Battastini, defende que o governo gaúcho deveria auxiliar o desenvolvimento desse empreendimento. Uma ação que será tomada nesse sentido ocorrerá amanhã, em Brasília, quando o governador José Ivo Sartori, o ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Eliseu Padilha, e o secretário estadual do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Fábio Branco, terão uma reunião no Ministério de Minas e Energia.

A discussão será sobre o fornecimento de nafta da Petrobras para a Braskem. Apesar do gaúcho Eliseu Padilha estar vinculado à pasta de aviação, sua presença será importante, pois é um nome relevante do PMDB, partido do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga. Ainda que persistam as dúvidas sobre o tema, o presidente do Sindiquim sustenta que a Petrobras não tem interesse em cortar o fornecimento de nafta. “Caso contrário, iria parar a indústria petroquímica por falta de matéria-prima”, alerta.

Battastini recorda que um dos motivos para chegar à situação atual foi a decisão da estatal de deslocar parte da nafta que era destinada para o segmento petroquímico para a fabricação de gasolina. O dirigente concorda com Zuñeda que o fato da Petrobras ser sócia da Braskem deverá facilitar para que as partes alcancem o consenso. Battastini acrescenta que a importação de nafta não seria uma resposta economicamente viável para a Braskem.

O presidente do Sindiquim prevê que um novo aditivo deverá ser fechado nesta semana entre as companhias. Quanto à Synthos, Battastini acredita que a empresa poderia começar as obras, mesmo que confirmado, momentaneamente, apenas um acordo temporário de nafta entre Petrobras e Braskem. “Mas, sabe como são esses investidores multinacionais, eles trabalham com exatidão, com risco dimensionado”, faz a ressalva.